Introdução ao Mistério dos 7 Corações Sagrados

Introdução ao Mistério dos 7 Corações Sagrados

Caros irmãos e irmãs, O texto a seguir aborda um poder divino que transcende o plano biológico e alcança o espiritual, sendo regido por Mãe Oxum: o Coração.

“A palavra coração deriva do grego e do latim cor. Ambas têm origem na palavra kurd do sânscrito, que significa saltar (Nager, 1993; Boyadjian, 1980; Acierno, 1994).” (Prates, 2005).

“A mais antiga representação do coração, de que se tem conhecimento, data de 1200 a.C. Trata-se de um vaso da cultura Olmeca do México, provavelmente usado nos sacrifícios humanos desse povo. O vaso tem a forma grosseira do coração com os três vasos originando-se em sua base (Vinken, 2000) (Fig. 1).” (Prates, 2005). 

O Coração em termos anatômicos, faz parte do sistema circulatório de nosso corpo, que tem como função o transporte de células e materiais solúveis, incluindo nutrientes, resíduos e gases. Em sua função específica o coração bombeia o sangue para o corpo e mantém a pressão sanguínea. 

Em nossa cultura, se pedirmos para alguém desenhar um coração desde uma criança, até um adulto, a maioria desenha na primeira tentativa o formato simbólico, aquele que forma nosso imaginário de quando estamos apaixonados e o cupido nos acerta uma flecha!

Vamos entender o que significa esse símbolo em termos mágico-religioso e filosófico-religioso.

Na nossa sociedade o coração é associado ao amor e na Umbanda associado a Oxum, que é a Divindade do Amor. Não se limitem a pensar somente no amor carnal, mas nas amplas formas de amor.

No Livro “Iniciação à Escrita Mágica”, de Pai Rubens Saraceni, o símbolo do Coração traduz uma onda vibratória (uma onda energética invisível que forma o desenho do coração). Essa Onda Vibratória tem o poder de conceber algo! Este é o poder mágico do Coração.  (Saraceni, 2003)

Mas o que significa conceber? Para nós, a concepção baseia-se na biologia reprodutiva na qual o óvulo se une ao espermatozóide resultando no feto. Portanto, para conceber algo é necessário agregação! Eis, as energias em torno do coração, agregar dois elementos para conceber algo novo. 

Ainda sobre as ondas “coronais”, Pai Rubens afirma:

“Oxum também se irradia em ondas “coronais” (de coração) que vão ligando as substâncias, os elementos, as essências, os sentimentos, e vão unindo os seres afins entre si, pelo elo do amor.” (Saraceni, 2017, p. 83 e 84)

Mostrando que a nossa lenda sobre o Cupido estava parcialmente certa! Amor, logo o coração, é ligação desde o nível de substâncias, até o nível de relacionamentos, para formação de algo novo!

Pelo lado filosófico, podemos entender o coração sendo relativo aos sentimentos virtuosos ou os sentimentos negativos e mesmo os sentimentos de amor, seja pela mãe/pai, namorado/a, amigo/a, ou consulente que vêm no terreiro.

No livro “Rituais Umbandistas. Oferendas, Firmezas e Assentamentos”, do Pai Rubens Saraceni, ele indica que Mistério é um Poder, é a realização de uma função, vamos ao exemplo que ele mesmo se utilizou, as Sete Palavras:

As palavras têm a capacidade, desde expandir a mente, ao ouvir um professor, ordenar, ao ouvir a Mãe de Santo, ou mesmo direcionar ao ouvir um conselho de um Caboclo, entre outras tantas funções! Portanto, são um poder e são um Mistério, o Mistério das 7 Palavras, e os guias nas consultas sempre utilizam esse Mistério. O número 7 está relacionado com os diversos sentidos de atuação da Umbanda: Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração. 

Logo, podemos esquematizar o Mistério dos Corações de forma sétupla:

Coração da Fé ou Cristalino

Coração do Amor ou Mineral

Coração do Conhecimento ou Vegetal

Coração da Justiça ou Ígneo

Coração da Lei ou Eólico 

Coração da Evolução ou Telúrico

Coração da Geração ou Aquático  

O Coração da Fé podemos interpretar que é associado aos sentimentos religiosos, de fraternidade, de plenitude, de paz, de perdão, de convicção, de resignação, de calma, de compaixão. 

Têm o poder de nos unir com outros irmãos (amigos), unir ideias resultando em projetos/direções novas no Campo da Fé.

Além disso, podemos associá-lo com o amor religioso (Saraceni, 2017).  

O Coração do Amor podemos interpretar que é associado aos sentimentos de amorosidade. 

Têm o poder de unir pensamentos e conceber novas direções no Campo do Amor, seja o que se refere à família, amizade ou relacionamentos amorosos mesmo.

Além disso, podemos associá-lo ao amor agregador (Saraceni, 2017), que agrega-se com outros.

O Coração do Conhecimento tem o poder de unir pensamentos, ideias, métodos, fórmulas para conceber novos conhecimentos e direcionamentos nesse campo do Conhecimento. 

Além disso, podemos associá-lo com o amor pelo conhecimento, e com o amor expansor (Saraceni, 2017) (o Pai que incentiva a filha a construir e a crescer na vida por amor ou mesmo o Caboclo que por amor ensina seu filho).

O Coração da Justiça tem o poder de unir pensamentos para se chegar em uma razão equilibrada, mas também unir concepções de Justiça para formar a sua ética pessoal e unir ideias que estabeleçam seu equilíbrio interno. 

Além disso, podemos associá-lo ao amor pela Justiça, bem como ao amor equilibrado (Saraceni, 2017).

O Coração da Lei tem o poder de unir ideias para conceber o seu caráter/moral e ordem pessoal.

Além disso, podemos associá-lo ao amor ordenador (Saraceni, 2017), (a Mãe espiritual, que por amor, ordena a vida de seu filho), bem como com o Amor à Lei.

O Coração da Evolução tem o poder de unir pessoas para conceber novos caminhos de evolução para ambas, unir pessoas com egrégoras, livros que possam ajudá-las a evoluir, agregar ideias para que tenham uma nova direção em sua evolução, agregar aprendizados para que consolide maturidades.

Além disso, podemos associá-lo ao amor à evolução e ao amor transmutador (Saraceni, 2017) (o namorado que cura a namorada já muito ferida no campo do amor, por simplesmente amá-la, ou o preto-velho que transmuta o peso em leveza ao dar um caloroso abraço).

O Coração da Geração podemos interpretar associados aos sentimentos de maternidade, de paternidade. 

Tem o poder de unir ideias para criar algo novo, bem como unir pessoas para gerarem algo. Além disso, podemos associá-lo ao amor à Geração e ao amor paterno e materno.

Para nós, umbandistas, ao tomarmos consciência desse Mistério, compreendemos que, assim como na base da criação, onde substâncias se agregam para a concepção de algo novo, esse princípio se manifesta em nossas vidas como o amor que irradiamos e recebemos, e como o poder de conceber novos caminhos, ações e ideias

Seja você quem for, fica aqui minha recomendação: que quando acorde, reze a Mãe Oxum pedindo que o Seu Mistério dos 7 Corações banhe-o de amor para doar seja para si ou para o próximo. E sempre que precisar de uma concepção desse poder divino, reze, acenda uma vela. Tenho certeza que se for de seu merecimento terá sua resposta no tempo certo. Lembrando de pedir por si e não interferir no livre arbítrio alheio, ok?

Fica aqui o meu sincero desejo que os 7 Corações brilhem sob todos nós e a partir de nós, seja em uma palavra amiga ou em um abraço forte!

Axé!

Referências

  1. PRATES, Paulo. Símbolo do Coração. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v.12, n.3, dez, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/ntBCxhtbSVFYcVx3sKWMWQK/#:~:text=A%20mais%20antiga%20representa%C3%A7%C3%A3o%20do,1). Acesso em: 05 maio de 2025.  
  2. SARACENI, Rubens. O Livro da Criação. O estudo de Olorum e dos Orixás. 1ª edição. São Paulo: Madras, 2014.
  3. SARACENI, Rubens. Rituais Umbandistas. Oferendas, Firmezas e Assentamentos. São Paulo: Madras, 2007. 
  4. SARACENI, Rubens. Orixás Ancestrais. A Hereditariedade Divina dos Seres. São Paulo: Madras, 2017.
  5. SARACENI, Rubens. Iniciação à Escrita Mágica Divina. A Magia Simbólica dos Tronos de Deus. São Paulo: Madras, 2003.