ORIXÁ OXUM NA UMBANDA SAGRADA – O Trono Feminino do Amor

ORIXÁ OXUM NA UMBANDA SAGRADA – O Trono Feminino do Amor

Na década de 1990 inicia-se a Umbanda Sagrada, a partir dos ensinamentos transmitidos pelo saudoso Rubens Saraceni, que foram ditados por Pai Benedito de Aruanda através de psicografias. 

Em atenção à referida doutrina, nós, filhos de fé, acreditamos na existência de um Deus único1, Olorum, quem criou as Sete Irradiações Divinas2, que correspondem às vibrações que dão sustentação a tudo o que existe em nosso planeta. Tais irradiações fluem num padrão próprio, influenciando quem por elas são alcançadas e estimulando os sentimentos nobres e virtuosos por intermédio dos Orixás. 

Os Orixás, por sua vez, são concebidos como divindades, por serem dotados de qualidades Divinas, e são os responsáveis pela concretização da infinita obra de Deus, colocada à disposição de todos os seres e substâncias por Ele criados3

Para a Umbanda Sagrada, os Orixás estão assentados em duas espécies4 de tronos energéticos, quais sejam: 1) os Tronos Unidimensionais, cujas irradiações são puras ou básicas e regidos por Sete Orixás; e 2) os Tronos Multidimensionais, transmissores de irradiações polarizadas (ativo e passivo; feminino e masculino), são regidos por Catorze Orixás. Na tabela abaixo, podemos evidenciar a referida classificação: 

Tronos Unidimensionais Tronos Multidimensionais 
Trono CristalinoOxaláTrono da FéOxalá e Logunan
Trono MineralOxumTrono do AmorOxum e Oxumaré
Trono VegetalOxóssiTrono do ConhecimentoOxóssi e Obá
Trono ÍgneoXangôTrono da EvoluçãoXangô e Oroiná
Trono AéreoOgumTrono da Lei Ogum e Iansã
Trono TelúricoObaluaiêTrono da Justiça Obaluaiê e Nanã
Trono AquáticoIemanjáTrono da GeraçãoIemanjá e Omolu

 Em que pese, nós, seguidores da Umbanda Sagrada, cultuarmos todos os Orixás que fazem parte dos Tronos Uni e Multidimensionais, aqui vamos esmiuçar tão somente os Tronos Minerais e o Trono Feminino do Amor. 

O Trono Mineral possui inúmeras subdivisões, e cada uma delas é considerada um mistério em si mesmo, através do qual a Orixá Ancestral Oxum se projeta, tornando-se “visível” aos seres que evoluem sob sua vibração energética. Trata-se de tronos puros, em que seus aspectos se manifestam na Natureza, especialmente nas cachoeiras e fontes naturais cujas águas são minerais5

Ainda a respeito de seus efeitos, os Tronos Minerais favorecem a conquista da riqueza espiritual e da abundância material, dividindo-se em sete tipos: 

Trono Mineral 
Trono Oxum das CachoeirasTri energético, cujo fundamento básico é mineral aquático
Trono Oxum das FontesIrradia com água a dimensão elementar terra-água
Trono Oxum do OuroAtiva a produção de hormônios
Trono Oxum da PrataAtua à noite e rege a geração
Trono Oxum do ArIrradia o arco-íris
Trono Oxum das PedrasIrradia minerais cristalinas
Trono Oxum do CoraçãoResponsável pelo amor

Quanto ao Trono Multidimensional do Amor, se manifesta através dos orixás Oxum e Oxumaré de distintas maneiras: enquanto Oxum – regente do Trono Feminino do Amor – é caracterizada por ser o amor em todos os sentidos, Oxumaré – regente do Trono Masculino do Amor – é concebido como a renovação do amor na vida dos seres humanos. É fácil notar, portanto, que ambos se complementam, razão pela qual cultuamos os dois Orixás de igual forma, mas com propósitos diferentes.

Nesse ponto, sendo esta edição dedicada à Orixá Oxum, voltemos nossas atenções especificamente à como Ela se manifesta no Trono Feminino do Amor. 

Por gerar o fator agregador e irradiador, Oxum abarca como essência a concepção ou a união. Divindade unigênita, é ela quem agrega tudo e todos em torno do divino criador Olorum. Logo, Oxum não existe por si só, sendo inconcebível dissociá-la de Deus. 

Quando pensamos na Orixá Oxum, pensamos no amor. Oxum é o próprio amor em ação; sua força é a força do amor. É ela quem desperta o amor nos seres, agregando-os e dando início à concepção da própria vida. Tida como a divindade que rege a fertilidade e a gestação; é por intermédio de Oxum que a vida é concebida na carne, multiplicando-se6.  

Guardiã do Ponto de Força da Natureza, as Cachoeiras, Oxum nos ensina que nada é estático, tudo que cai de um nível segue o seu curso em outro nível. Eis a força cósmica de Oxum agindo sobre os sentimentos humanos, representados pelas águas que caem e continuam o seu caminho, alimentando a vida à sua volta. Ela é, ainda, a lágrima incontida nos momentos de provação, que permite liberar a emoção negativa que nos magoa, sufoca ou prova forte angústia. Somente através das lágrimas purificadoras conseguimos dissipar essa energia e continuar nossa caminhada7

Quem mergulha na energia emanada por Oxum não se torna árido em seu interior, pois sabe que as lágrimas são o remédio mais eficaz para purificar o espírito dos fluidos negativos que, se não forem neutralizados, podem trazer doenças emocionais e desequilíbrios mentais. Por outro lado, as pessoas que não se afeiçoam à Oxum podem se tornar vazias de sentimentos humanos, em especial de amor.

De se ver que a Orixá Oxum carrega consigo esse efeito regenerador sobre a aura humana. É ela quem completa a harmonização das almas que buscam se renovar ante o Criador, purificando e fortalecendo nosso espírito, além de energizar nosso corpo. Por isso, toda vez que uma cachoeira é devastada, o planeta adoece um pouco mais, haja vista que uma fonte natural de purificação e fortalecimento é destruída. 

Pois bem: à medida que somos amparados por seus fluidos regeneradores, Oxum é concebida como fonte de energia purificadora. Mas, quando contrariada, torna-se fonte de energia desestabilizadora, atuando no negativo dos seres. Quem sofre um choque desses, logo muda o curso de sua vida. 

Feito esse breve relato de como a Orixá Oxum se apresenta no Trono Feminino do Amor, remanesce pontuar que a Umbanda Sagrada, para além de adotar os ensinamentos de Rubens Saraceni, também faz uso de alguns conceitos das religiões de matriz africana.  

Por exemplo, tendo sido humanizada em lendas africanas, Oxum é igualmente retratada na umbanda como uma mulher bela e jovem, de longos cabelos dourados, vestida com roupas amarelas e carregando um leque e um espelho. Associadas à Oxum são as seguintes cores: rosa, amarelo e dourado, representando o amor, a riqueza e a abundância. 

Originário da cultura iorubá, o nome Oxum deriva da palavra “Ọ̀ṣun”, que é um rio que percorre a Iorubalândia, região localizada em parte da Nigéria, da República Togolesa e da República do Benin. Cultuada como rainha da Nação Ijexá, Oxum – a filha mais velha de Oxalá e Iemanjá – é detentora do título de Yalodê, que significa “aquela que lidera as mulheres8 .

Eis que, segundo a mitologia iorubá, na antiga Terra onde habilitam os Orixás, ao não ser convidada para reuniões sagradas, Oxum lançou um feitiço que tornou todas as mulheres estéreis, secando as fontes da vida e mergulhando a Terra em um estado de infertilidade. Perplexos, em busca de orientação, os orixás se voltaram a Olorum, que proclamou: sem a presença de Oxum e seu inerente poder sobre a fertilidade, nada prosperaria. Reconhecendo as terríveis consequências de sua exclusão, os orixás estenderam o convite a Oxum. Depois de muita persuasão, Oxum finalmente concordou em agraciar as reuniões com sua presença. Instantaneamente, a fertilidade das mulheres estéreis foi restaurada, e tudo se restabeleceu. Com sua inclusão, o equilíbrio de poder foi restaurado e os orixás aprenderam uma lição valiosa sobre reconhecer e respeitar a força feminina. 

Dessa forma, Oxum é considerada o símbolo do sagrado feminino, guiando todo ser humano nos campos do amor e da fertilidade. 

Para a Umbanda Sagrada, é energia de concepção disponível a todos, a força do amor de Deus que cria.  

Que o Axé de Mamãe Oxum possa trazer muita prosperidade e amor para todos os nossos irmãos de fé! “Ora Yê Yê Ô” mamãe Oxum!

 1 SARACENI, Rubens. Umbanda sagrada: religião, ciência, mais e mistérios. 10 ed. São Paulo: Madras, 2023, p. 31. 

2 SARACENI, Rubens. Doutrina e teologia de umbanda sagrada: a religião dos mistérios um hino de amor a vida. 17ª ed. São Paulo: Madras, 2024, p. 175.

3 SARACENI, Rubens. Orixás: teogonia de umbanda. 3ª ed. São Paulo: Madras, 2008, p. 14.

4 SARACENI, Rubens. Doutrina e teologia de umbanda sagrada: a religião dos mistérios um hino de amor a vida. 17ª ed. São Paulo: Madras, 2024, p. 253-261.

5 SARACENI, Rubens. Doutrina e teologia de umbanda sagrada: a religião dos mistérios um hino de amor à vida. 17ª ed. São Paulo: Madras, 2024, p. 269-270.

SARACENI, Rubens. Orixás: teogonia de umbanda. 3ª ed. São Paulo: Madras, 2008, p. 83.

7SARACENI, Rubens. Umbanda sagrada: religião, ciência, mais e mistérios. 10 ed. São Paulo: Madras, 2023, p. 87.

8DE ÀJÀGÙNNÀ, Tilo Ploger. Os mitos da Orixá Oxum: coleção de 125 mitos da África, Brasil e Cuba. eBook Kindle.