Exu Mensageiro do Inconsciente

Por Tamis Lima

Se tem um personagem na Umbanda que gera as mais diversas emoções, esse personagem é Exu. O medo e o desejo de estar frente a frente com essa entidade lotam as giras, mas também o fazem ser chamado de Diabo.     

Muitas histórias são contadas, algumas delas desvirtuando e mistificando essa figura que na Umbanda Sagrada é essencial, afinal, sem Exu nada acontece. Mas você, por acaso, já se perguntou o que esse personagem tem para nos dizer e mostrar?

Sou Psicanalista e há muitos anos tenho dedicado boas horas da minha vida para entender melhor sobre a Mitologia Umbandista e Iorubá, e posso lhe dizer que estudar sobre Exu me trouxe até aqui hoje fazendo parte de uma casa e seguindo a religião.

Antes de eu lhe falar de Exu, preciso lhe explicar um pouco mais sobre o que são os arquétipos e como eles funcionam. Arquétipos são personagens criados pela humanidade; esses personagens nos trazem representações de personalidades padrões existentes na sociedade. Essas representações são universais e estão em nosso inconsciente. Nós adquirimos esses arquétipos ao longo da vida, em contato com a sociedade, mas também através do inconsciente coletivo, que é o que a humanidade “pensa em conjunto”.

Só para ficar mais claro e acompanhar minha linha de raciocínio: o nascimento pode ser considerado uma experiência arquetípica, já que todos nascemos. Mas, além de nosso nascimento físico, toda vez em que começamos algo novo é um nascimento de forma simbólica. Idem com a morte: há a morte física e a psicológica. Toda vez em que encerramos ciclos, algo deixa de existir.

Aí, sei que agora você deve estar pensando: “E o que isso tem relação com EXU?” 

É aí que a coisa começa a ficar realmente interessante. Todos nós, sem exceção, sendo ou não umbandistas, temos o Arquétipo de Exu dentro de nós.

Exu é o caos, também o vazio que cria e destroi. É o único que tem livre acesso a todas as estradas e caminhos e por isso é associado à abertura desses caminhos. Ele nos lembra de que viver a nossa liberdade é importante, mas também de que a libertinagem é destruidora.

Exu tem uma energia que chamamos tripolar, ou seja, ele tem em si três energias. São elas: negativa, positiva e neutra. E ele vem nos lembrar de que todos temos a opção do meio, do equilíbrio e da harmonia. Ele vem escancarar que nossos excessos têm um preço e que, mais cedo ou mais tarde, nossa “conta” chega.

De Exu nada se esconde; ele é o mensageiro dos Orixás, o mais bem informado de Aruanda. Ele é aquele que comunica e aquele que, às vezes, causa desencontro de informações. Dizem que Exu faz o erro virar acerto e o acerto virar erro.

Esse conjunto de características faz de Exu o arquétipo que liga o conteúdo consciente ao inconsciente do homem. Ele regula e faz uma compensação psíquica, nos tirando de extremos psicológicos (emocionais e sentimentais). 

Exu vem nos mostrar tudo que está em nosso inconsciente; que precisa ser visto e sentido. Ele vem escancarar e colocar luz nas nossas sombras. Naquele pedaço de que não gostamos ou temos vergonha de mostrar para o mundo, e que muitas vezes negamos para nós mesmos ou até fingimos que não existem. Exu vem cobrar o que foi “esquecido”.

Como Exu é o mensageiro de nossa pior parte (daquilo que não vemos e não aceitamos em nós e no outro), ele se “tornou” o diabo em algumas religiões. Ele virou a representação daquilo que veio mostrar. Exu vem revelar o que há de pior na humanidade, mas também, em alguns casos, ele vem nos mostrar o que há de melhor.

Afinal, muitos de nós vivemos a vida nos achando vilões de nossa própria história, como se não fôssemos merecedores de amor. Vamos ao encontro de estradas perigosas, pois “é isso que os vilões merecem”.

Então eu te pergunto: o que Exu tem para lhe mostrar? O que tem no seu inconsciente, no seu lado sombra, que precisa ser visto?

Reflita sobre isso e se conecte a esse arquétipo. Não tenha medo da verdade e dos caminhos que escolheu trilhar, afinal, Exu está em todos os caminhos.

Que Exu te acompanhe.

Larôye Exu, Exu é Mojubá.