
Não é tudo pra ontem – uma reflexão sobre a ansiedade no desenvolvimento mediúnico
Não é tudo pra ontem – uma reflexão sobre a ansiedade no desenvolvimento mediúnico
Não me recordo exatamente em que momento da vida começam a incutir em nossas cabeças a ideia de que, se você tem uma meta, é preciso alcançá-la o quanto antes e superar os seus colegas. Assim, se constrói uma falsa compreensão do que seria “vencer na vida”. Mas como podemos falar em “vencer” se a vida não é uma competição ou uma corrida? Isso reforça apenas uma coisa: cobrança e culpa individual, gerando ansiedade.
De repente, quando você menos espera, já internalizou esse sentimento. Calma, não vamos entrar em patologias neste texto. A ansiedade acaba afetando tudo: nossa forma de enxergar com clareza a situação em que estamos inseridos e até a nossa saúde, ao trazer impactos danosos para o físico e o psicológico.
Isso não é diferente ao se desenvolver na Umbanda, parece que todas as respostas precisam estar na ponta da língua imediatamente: Quais são os meus Orixás de cabeça? Por que escuto vozes que não consigo entender? Será que estou me dedicando da melhor forma possível? Por que sinto dificuldade em me conectar com alguns guias na incorporação? Sexta, no Globo Repórter. Brincadeira, quem me dera já ter as respostas para tudo.
São perguntas inquietantes que me acompanham há pelo menos três meses, mas, na verdade, não queria essa companhia indesejada. É difícil desligar o interruptor na minha cabeça, que fica ligando o tal do pensador no 220v. “Fia, acalma o pensador.” Eu preciso me acalmar. E aí, sem querer, acabo entrando em um novo ciclo de autocobrança.
Como nem sempre a linha de avanço que seguimos é linear, tento focar em uma coisa de cada vez no auge da ansiedade. Acender a vela e conversar um pouco com tal guia e/ou Orixá? Ok. Valorizar sentimentos bons no lugar de ruins? Vamos lá. Procurar um lugar mais silencioso para conversar com os guias? Só se for agora.
Quando percebo que quero me sabotar, seja por comparação ou por alguma cobrança interna de “não foi dessa vez”, tento entender o que não está me fazendo bem. Não adianta querer se forçar a ter o mesmo processo de outra pessoa ou criar uma imagem do que seria um desenvolvimento ideal. Ao fazer isso, só atrapalho o meu próprio momento de me conectar com a espiritualidade.
Sinto que, para quem está começando, os desafios parecem maiores porque ainda existem medos, inseguranças, dúvidas e dificuldades em focar no aqui e agora. Para mim, esse é um dos principais desafios. Não me lembro quando foi a última vez em que consegui meditar – e tenho a sensação de que, sempre que tento meditar, acabo dormindo.
Não existe um processo de desenvolvimento mediúnico certo e ter esse pensamento me tranquiliza. “Ah, mas eu incorporo e não escuto nenhum recado dos meus guias, enquanto o fulaninho consegue.” Calma, respira e olha o seu caminho até aqui. Sente uma energia diferente quando está em contato com os seus guias? Vê que, aos poucos, está acontecendo uma aproximação? O desenvolvimento te traz mais calma e esclarecimento? Então, está tudo bem.
Diferentemente do que sugere o nome da música “É tudo pra ontem”, do rapper Emicida, na realidade, nada é para ontem. Dispomos de todo o tempo necessário para compreendermos a nossa trajetória de desenvolvimento mediúnico e, ao percebermos isso, ficamos livres de amarras criadas por nós mesmos.
Publicar comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.