Eu, a Linha dos Ciganos (ou “A Bendita mão de Tio Rafael”)

Eu, a Linha dos Ciganos (ou “A Bendita mão de Tio Rafael”)

FOTO: João Arthur Pavani

A aluna de desenvolvimento mediúnico Patrícia vai falar um pouco do baralho cigano, instrumento muito utilizado por este povo e por ela em muitos trabalhos dentro e fora do terreiro!

Para falar sobre Baralho Cigano, terei que contar um pouco como tudo começou; ou melhor, como tudo renasceu! 

Minha experiência e vivência com o Baralho Cigano está direta e intrinsecamente ligada ao meu desenvolvimento mediúnico e à conexão com a linha dos ciganos.

Desse modo, inicio este texto primeiramente relatando minha conexão com a linha dos ciganos e, mais adiante, falarei sobre a presença do Baralho Cigano em minha vida e o uso dele como uma linda e poderosa ferramenta de autoconhecimento, aconselhamento e conexão com a ancestralidade.

Tudo começou em 1973, quando o primo cigano da minha madrinha tocou a barriga da minha mãe, grávida de mim naquela época, e disse: “Olha só, mais uma das nossas!” 

Esse fato passou despercebido até pouco tempo atrás quando, em uma festa cigana, a filha da prima da minha mãe (minha prima de 2º ou 3º grau… não sei ao certo) me contou que ela se lembrava claramente do tio Rafael (o primo cigano) tocando a barriga da minha mãe e falando sobre a menina cigana que chegaria no dia 07 de março daquele ano de 1973. Ela conta que ele tocou a barriga da minha mãe e disse: “Olha só, mais uma das nossas! Logo mais ela chegará e trará nas mãos mais uma ferramenta do nosso povo”. 

O tio Rafael era um cigano oraculista que vivia sempre viajando pelo interior de São Paulo e que aparecia de vez em quando para visitar as irmãs e primas. Nessas visitas, todo mundo queria ler cartas e as mãos com ele. E foi de acordo com a data que o tio falou que eu nasci: em 07 de março de 1973, Quarta-Feira de Cinzas, recebendo o nome de Patricia, a menina que traria força e movimento, que não se contentaria com calmarias, sempre buscando viver e se entregar com intensidade a todas as experiências que a vida pudesse oferecer.

Muito tempo passou, ninguém falou sobre esse acontecimento, e o baralho só apareceu na minha vida em 2020, quando eu finalmente decidi me entregar às experiências da vida ligadas, naquele momento, à minha jornada mediúnica. 

Meu foco era buscar conhecimento profundo e verdadeiro sobre a minha mediunidade e foi na Umbanda que eu me reconheci como médium. Eu entendi o tanto de possibilidades que a vida havia me mostrado até ali (e eu nem tinha me dado conta).

Foi através do estudo na Umbanda, e de todas as linhas de trabalho, que a possibilidade de reconexão com os ciganos se fortaleceu. Não somente com os ciganos, mas com toda a minha ancestralidade.

Trabalhar ativamente na Umbanda foi meu primeiro canal com a linha dos ciganos para que essa reconexão acontecesse (sem considerar o fato da “mão do tio Rafael”) e, dali para o Baralho Cigano, foi um “pulinho”, pois tudo foi surgindo naturalmente, além do fato de que havia uma linda médium no terreiro onde eu iniciei minha jornada, naquela época. 

Aquela bela médium tinha muita afinidade com a linha dos ciganos. Logo de cara, nos “reconhecemos”. Ela já estudava o baralho e ministraria um curso de Baralho, dança e cultura cigana.

Não tive dúvidas de que eu deveria fazer aquele curso, sem motivo consciente. Eu simplesmente me matriculei e fiz: foram 6 meses do primeiro curso de Baralho, depois mais um e mais outro e mais outros. Atualmente, não me canso de estudar todos os temas ligados aos oráculos ciganos, não somente o baralho, mas também quiromancia, cafeomancia e outros.

Sim, o aprendizado foi teórico e acima de tudo intuitivo também, pois eu ia sentindo cada vez mais amor, paixão e entrega no estudo daquele oráculo e de tudo que remetesse à cultura cigana.

Eu estava no meu primeiro curso de desenvolvimento mediúnico, na primeira casa que me acolheu como médium, e a linha dos ciganos surgiu com muita força e intensidade, não me deixando dúvidas de que eu poderia e deveria me entregar e me dedicar cada dia mais.

A cada aula parecia que eu me aproximava ainda mais deles (ciganos) e relembrava coisas que eu não sei de onde vinham, mas vinham até mim de forma fluida e natural, trazendo uma força ímpar e um poder de autoconhecimento e interpretação de tudo que nos rodeia na vida.

Hoje, após quatro anos nessa jornada, me afirmo como cigana, cartomante, oraculista e me delicio com o envolvimento cada dia mais profundo com toda a cultura cigana e com esse povo alegre e maravilhoso que é o povo cigano.

Faço parte do Coletivo Cultura Cigana Brasil e de mais alguns grupos.

Todos lutam para disseminar e posicionar os Ciganos na sociedade; espalham amor, respeito e verdade por onde passam; promovem não somente festas. Também compartilham conhecimento e respeito à cultura e tradições, sem distorcer a figura dos ciganos perante a sociedade, que por vezes tanto nos marginaliza.

Preferi introduzir um pouco sobre mim para que entendessem que a minha vivência com o Baralho chegou através da aproximação e do envolvimento com a linha dos Ciganos e que, sem eu saber, já estavam na minha vida desde o momento em que eu ainda era um bebê, reforçando o quanto nossa ancestralidade “grita” e nos guia ao longo da nossa vida.

Autora: Patricia Peixoto.

Relatos TSA é o autor coletivo do nosso jornal, dedicado a compartilhar histórias vividas ou contadas em nosso espaço sagrado. Seja para narrar momentos de fé, aprendizados espirituais ou manifestações marcantes, este autor simboliza as vozes que ecoam no terreiro, conectando cada relato à essência da espiritualidade e da tradição.