
Umbandokê! O hino da Umbanda
Uma das músicas mais conhecidas e amadas do nosso terreiro é o “Hino da Umbanda”, ponto que, em geral, inicia os trabalhos no nosso querido TSA.
Quando nossa casa está cheia e todos os médiuns e consulentes cantam juntos, o som é uma verdadeira arrebentação. Quem já esteve presente pode sentir a vibração.
E vale dizer que os pontos cantados (as nossas músicas) têm um importante papel nos rituais de Umbanda: são verdadeiras orações.
Há casas que não as usam na gira, mas aí é cada casa com seu fundamento.
Na nossa casa, a música faz toda a diferença, evocando energias, fatores e procedimentos magísticos que auxiliam o trabalho dos guias, estejam eles incorporados ou não, incluindo a proteção espiritual.
Os atabaques têm, inclusive, um Orixá regente em casas de Candomblé: Ayangalu. Na nossa casa, nossos atabaques estão consagrados ao ‘Orixá de cabeça’ (Oxóssi) do nosso ogã-chefe, o Guilherme.
Assim, vamos a ele: o “Hino da Umbanda”.
Escrito nos anos de 1960, o hino foi feito por José Manuel Alves, músico nascido em 1907, em Portugal, mas emigrado para o Brasil ainda criança. Autor de músicas populares (marchinhas, serestas e afins). J.M. Alves, como assinava, era cego desde o nascimento e, na Umbanda, ele buscou sua cura.
Sem conseguir resultados físicos, o músico, entretanto, encontrou acalanto espiritual e, como agradecimento, fez a música que mexe tanto conosco.
Segundo dados da época, em 1961, durante o 2º Congresso de Umbanda, a música foi apresentada ao Caboclo das Sete Encruzilhadas, que aprovou a música.
E a letra, o que ela diz? Vamos interpretar a música também à luz de nossos fundamentos – afinal (como diz um crítico literário de quem eu gosto bastante, Roland Barthes) o texto não fala só o que o autor quer, mas aquilo que está para além dele.
Refletiu a luz divina
Com todo seu esplendor
Vem do reino de Oxalá
Onde há paz e amor
Luz que refletiu na terra
Luz que refletiu no mar
Luz que veio de Aruanda
Para nos iluminar
A Umbanda é paz e amor
Um mundo cheio de Luz
É força que nos dá vida
E a grandeza nos conduz
Avante, filhos de fé
Como a nossa lei não há
Levamos ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá
O hino nos fala que a Umbanda “reflete a luz divina”, ou seja, a luz que vem do próprio Olorum, criador de todos os Orixás, e também de Oxalá, o primeiro, que é o pensamento vivo e divino de Deus.
E essa luz “reflete na terra e no mar”: afinal, o mar é pemba, o reino de mãe Iemanjá, que com suas águas cria a vida. Essa água se une à terra e se torna o barro primordial de nossa mãe Nanã, se torna a fonte da vida vegetal, de nosso pai Oxóssi, e é iluminada pela luz de Oxalá.
“A Umbanda é paz e amor”, porque ela é a cura e a doação: nós umbandistas doamos nosso tempo, nossa energia, nossa vontade de ajudar nossas irmãs e nossos irmãos. Ou seja, trabalhar na Umbanda é necessariamente um ato de amor ao próximo e, mais do que isso, de amor à vida do próximo. Isso nos conduz à “grandeza”, porque, quando trabalhamos pela cura, nos aproximamos da energia de nossos sagrados senhores Orixás.
Então, “filhos de fé”, você que me lê e eu que lhe escrevo, vamos continuar nosso trabalho. Com a nossa lei (a lei de Olorum) não há injustiça, ódio, magia opressora ou incorreção que se sustente. “Levamos ao mundo inteiro a bandeira de Oxalá”, porque Oxalá congrega todos nós, em diversos estados e países, pela fé nessa religião de cura: a Umbanda.
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