Ponto de Obaluaê

Ponto de Obaluaê

O ponto apresentado abaixo é um dos mais conhecidos pontos de Obaluaê, Orixá masculino do Trono da Evolução, um dos regentes da linha dos Pretos Velhos na Umbanda Sagrada. 

Conheça mais sobre esse trono no artigo especial desta edição sobre os Orixás regentes dos Pretos Velhos!

Voltando, o estudo deste ponto tem sua relevância para entendermos a forma de evocar e assentar esse orixá em nossas vidas. Vejamos:

É Obaluaê

Atotô

Se você está sofrendo

no leito ou com frio e com dor

Com pipoca e com dendê

muita gente ele curou

Se seu corpo está ferido

e não pode mais suportar

Peça proteção a ele

que ele vai lhe ajudar!

Obaluaê!

É Obaluaê

Atotô

Tem o segredo da vida

do começo meio e fim

Ó meu senhor das palhas

tenha muito dó de mim

Na procissão das almas

que partem pro infinito

ele vai mostrando a elas

outro mundo mais bonito!

Obaluaê

É Obaluaê

Atotô

Logo em seu início, o ponto traz a vocalização “Ê” ou “É”:

É/Ê Obaluaê… 

Atotô

Embora muitos possam pensar se tratar apenas de um recurso estético, inserido na letra para o benefício da musicalidade e/ou harmonia do ponto, a verdade é que o “ê/é” tem o significado de afirmar a força e importância do orixá.

É importante ressaltar que por se tratar de uma linguagem de cunho religioso e de transmissão oral, dificilmente encontraremos uma definição tão adequada e precisa em dicionários de iorubá.

Com relação ao seu nome, Obaluaê, apesar de existirem entendimentos variados quanto ao seu significado, o mais comumente aceito é se tratar de “Senhor [no sentido de “Rei”] da terra”, enquanto que o termo “atotô”, usado como forma de saudação à este orixá (Atotô Obaluaê), traz o imperativo “Silêncio”, que entendemos então como “Faça-se Silêncio”.

Desta forma, o início do ponto nos orienta a ficarmos em silêncio diante do rei da terra. E a terra, nesse caso, não é apenas o elemento material, mas um símbolo para a ligação entre esse plano e o plano espiritual.

A terra é esse lugar de vinculação, pois é dela que surge a vida, e é nela que a vida acaba. Aqui temos também a lenda de nossa mãe Nanã Buruquê, Orixá feminino do Trono da Evolução que, segundo uma das lendas, ao manipular o barro (ou seja, a terra) cria os seres humanos e, ao tornar a manipulá-lo, desfaz a forma física humana.

Obaluaê é aquele que traz os mistérios da evolução no sentido de mudar ou transmutar o estado (de espírito, material, emocional etc.) de algo ou alguém para um estado renovado.

Um ponto fundamental no trabalho desse orixá é que pode atuar na evolução tanto de seres encarnados como de desencarnados.

O ponto fala em “sofrimento”, “frio” e “dor”:

Se você está sofrendo

no leito ou com frio e com dor

Esses aspectos tanto podem estar relacionados a problemas físicos, espirituais ou materiais, como também ao momento de desencarne dos seres. Seja como for, podemos observar na sequência do ponto que a ideia é que há um fator de cura, isso é, de transformação da realidade da pessoa que venha porventura invocar o orixá:

Com pipoca e com dendê

muita gente ele curou

Pipoca representando a “flor da transformação”, que do grão amarelo de milho, se abre quando aquecida alterando totalmente a sua forma, enquanto que o dendê, o azeite do dendezeiro, um óleo vegetal “quente” que contém uma energia incisiva e de grande potência, vem indicar o fator de evolução de Obaluaê. 

Para Obaluaê não existe problema que não possa ser resolvido, nenhuma doença é intratável, nenhum padecente sofrerá eternamente. Com ele aprendemos que as coisas evoluem, às vezes com intensidade, outras vezes nem tanto, mas sempre para estados totalmente novos.

Isso é reforçado no segundo verso, quando há menção ao corpo de Obaluaê. Quase todas as lendas africanas do orixá falam sobre seu corpo, que teria sido afetado por uma doença cutânea (sarna, lepra ou outra não especificada, a depender da tradição) e que, por ação dos mistérios e estudos sobre a evolução, foi curada.

O fator de evolução é reforçado pelos versos seguintes: 

Tem o segredo da vida

do começo meio e fim.

Logo, Obaluaê carrega o mistério da passagem pelos ciclos da vida. Sua força consiste em nos levar a entender e trabalhar os períodos de nossa existência, em nós mesmos, no sentido de operarmos nossas transformações pessoais.

Ó meu senhor das palhas

tenha muito dó de mim

Sua energia e seus mistérios trabalham a cura de traumas, karmas, e demais questões que envolvem nosso espírito, tanto nesta como em vidas anteriores, mas o fazem com profundo amor e compaixão.

Esse trabalho de mudança pode acontecer mesmo após o desencarne quando nossos corpos materiais deixam de existir, mas nossos corpos espirituais continuam sua jornada através de outras realidades. Assim, Obaluaê é o orixá que pode também ser evocado para os trabalhos de cura espiritual. Esse fator pode ser interpretado aqui:

Na procissão das almas

que partem pro infinito

ele vai mostrando a elas

outro mundo mais bonito!

Obaluaê

Aqui o mistério de Obaluaê (o “mundo mais bonito”) é justamente o entendimento de que nossas dores físicas, materiais, espirituais e mentais são algo menor (ele vai mostrando a elas) diante da grandiosidade daquilo que é nossa existência enquanto seres fatorados por Olorum, em um contínuo processo de nos voltarmos à plenitude Dele (outro mundo mais bonito!).

Por isso, quando você precisar de uma cura, de um alento, de uma clareza sobre as passagens e transformações pelas quais está passando ou precisa passar, não hesite em firmar uma vela para nosso Pai Obaluaê, e fazer os seus pedidos à partir do coração!

Atotô Obaluaê!

Professor e escritor de São Paulo, sou umbandista desde 2020, Escrevo Literatura, tenho formação em Letras e Oxalá de frente (aluno do desenvolvimento mediúnico de quinta-feira).