Relato do Marinheiro

Relato do Marinheiro

Foi numa aula muito especial sobre os Marinheiros em que relatos profundos nos foram compartilhados pelos colegas e alunos de desenvolvimento mediúnico.

Naveguemos no trabalho mágico desses seres de luz!

“Aqui menina, 

Dentro dessa casa, tem muito guerreiro.

Aqui nesse solo eles estão de branco, foram chamados. 

Aqui tem guerreiros e eles vão trabalhar.

Olhe aqui,

Tem o canto,

Tem as varas que rabiscam,

Tem o chefe que guia, que cuida,

Aqueles que choram,

Aqueles que olham,

E cada um traz sua força. 

Olhe aqui,

Olhe em volta.

Família, união, um elo, e todos vão trabalhar!”

E, assim que João Marujo chegou, o trabalho começou.

Estávamos no mar, nossa jangada estava leve, muito tranquila. Era de noite e não tinha nenhum tipo de luz, nem mesmo a da lua, que poderia nos guiar.

Mas João estava lá. E em silêncio tocava a jangada, pois sabia para onde nos levaria. 

Me senti super tranquila, como se fosse um passeio. O mar ainda era calmo, leve como uma casa. 

O barulho do mar me acalmava muito, deixava meus pensamentos longe, quando, de repente, ouvi GRITOS!

Eram muitos, eram altos, muito desespero junto. 

Choravam, chamavam, eram muitos agitados.

Percebi o mar diferente, já pude perceber aonde o trabalho estava nos levando. 

João continuou com sua jangada, com expressão de quem sabia certamente onde era a sua missão.

Pensei em perguntar sobre essas almas que “estavam ficando para trás”, mas então me dei conta que guerreiros vieram para trabalhar; olhei à minha volta e guerreiros estavam a trabalhar. Essas almas teriam seus resgates, seriam acalmadas e suas jangadas iriam chegar.

João então para e se encontra com a alma que viemos buscar.

E ela estava chorando, olhava para os lados, e estava perdida.

Mas algo ali me chamou a atenção. Ela não saía do lugar!

João se manteve em silêncio e foi apenas se aproximando. A cada metro que chegava perto, o desespero dessa alma diminuía, pouco a pouco.

Seu choro foi ficando mais baixo e sua cabeça levemente se levantou, mostrando que ali ainda existia um resquício de fé. 

E então essa alma consegue falar. 

“A muito tempo que espero por alguém, estou sozinha aqui, faz muito tempo!”

João se manifesta com uma pergunta sobre como essa alma estava tão longe, tão sozinha e porque ficou tanto tempo parada, porque já perdida não continuou a nadar. 

Bastou isso para essa alma voltar a chorar desesperadamente e dizer: “Está escuro e não amanhece nunca. Me perdi, não sei voltar. Faz muito tempo que cheguei aqui e não sei fazer mais nada além de chorar.”

Logo fico com uma expressão de que não estava entendendo nada, mas João não, ele já sabia o que tinha acontecido e, mesmo assim, perguntou para essa alma: “Como veio parar aqui?”

Foi então que percebi que não só perdida ela estava, não só longe de casa ela estava, como também não se recordava de tantas coisas. Estava há muito tempo lá, suas memórias estavam sendo levadas por fortes ondas e a cada tempestade essa alma era jogada para mais longe.

Viajamos muito para encontrá-la e, a cada quilômetro mais longe que íamos, era cada vez mais denso, mais difícil. Lá havia todo tipo de dor, de sofrimento, de gritos.

Quanto mais longe, mais almas perdidas eu podia ouvir. 

Perdidas de suas próprias memórias, próprias promessas, perdidas de sua própria fé.

Mas então essa alma nos falou, não detalhadamente.

Apenas se recordava de que, quando veio para a praia, não estava tão longe, não estava escuro e também não havia tantas vozes gritando ao mesmo tempo e não havia ninguém em desespero.

Mas a hora que me chocou foi quando ela disse: “Deixei a vida.”

“Eu tinha muita dor, não consegui e deixei a vida. Escolhi a praia porque era calma, porque o sol brilha aqui quase todos os dias, e porque é linda!” 

Chorando, soluçando, ela continuou com sua história e disse com muita dor: “Não imaginava que poderia ficar presa aqui, que poderia parar aqui. É muito escuro, muito triste, muito agitado. Me sinto no mesmo lugar em que estava quando tirei a minha própria vida. Não entendo! Eu voltei para o mesmo lugar, não entendo! A dor continua aqui ao meu lado.”

João, de forma direta, pergunta à alma: “A moça se sente preparada para entrar nessa jangada?”

E esse marujo sabia de seu medo, sabia que a própria alma se prendia em sua dor e não conseguia sair do lugar. 

Ficou um silêncio, mas, de repente, João diz: “Se arrepende moça? Se arrepende de ter deixado tudo por conta dessa dor e agora ela te mantém presa? Se arrepende da vida que não viveu, porque essa dor te pediu e agora aqui, tão distante, te faz refém?

Trouxe minha jangada. Trouxe a ti a oportunidade de continuar vossa vida e a ti, novamente, a vida.

Para entrar, se desprenda dessa dor, desapegue disso e dessas coisas aí.

Moça se apegou demais a essa dor toda e, no fim, aqui, era tudo o que tinha.

Entra na jangada, moça, não traga nada para cá, não precisa de nada que tenha aí com você.

Se sente pronta, moça?”

Foi quando vi. Quando vi ali a moça tirando coisas enormes, pesadas, grudentas de si. E foi assim que, com nada, entrou para a jangada de João Marujo.

Essa parte eu fiz em casa; ainda tinha o que escrever. 

Firmei a vela que estávamos usando no trabalho, coloquei sua guia e o barulho do mar, como tínhamos feito.

E não precisou de muito tempo, já estava ao lado dele novamente.

E então escrevi.

Estava sem entender, estava “livre para fazer o que João fosse me pedir”. Mas eu já estava longe de casa, ou longe dessa casa, porque estava na jangada desse Marujo e me sentindo pronta para trabalhar.

Antes de ir ele me disse “Vamos! Pegue o que precisa, mas não precisa de muito.”

Esse “muito” eu não tinha entendido, pois em minhas mãos eu só via um papel e uma caneta. E será que era isso? 

Em um segundo me dei conta. Era isso!!!

Olhei e não era apenas um papel e uma caneta, era a minha vara, era a minha ferramenta e era o que eu precisava. 

Ali, naquela vara carregava a minha fé, a minha força, meu amor. Ali, tinha minha coragem e me senti preparada para essa jangada. E então eu fui.

@~Giovanna Azevedo

1. “Acolhendo o espírito de Caio Miguel. Perdeu a vida aos 17 anos em um acidente de carro em 1918 e está perdido desde então. Encontra-se em uma gruta com muitas feridas pelo corpo, deitado e ainda se pergunta o que aconteceu.

Estamos levando-o para se curar. Está neste momento entrando no barco de resgate. Ele está com muito medo de que o machuquemos, medo esse, por tantas experiências ruins que teve aqui no fundo. Estamos lhe oferecendo amor, para que ele se lembre do Grande Deus e de sua caminhada de evolução.” 7 Marés

2. “Encontramos um espírito em muito sofrimento. Desencarnou recentemente no Brasil, em uma comunidade, estava indo para escola e foi baleado no peito e na cabeça. Ainda com os machucados, é muito jovem, ele está muito perdido, é muito jovem. Está sangrando muito. Muitos trabalhadores unidos para pegá-lo.

Estamos trazendo-o de volta para a superfície. Com amor e muito trabalho estamos conseguindo.

Resgatado.

Ele está sendo levado para limpar suas feridas. Vamos explicar a ele agora qual será seu novo lar.” 7 Marés

3. “Acolhemos o espírito de Ruan do Amaral Cavalcante, que se suicidou há 418 anos, vivia numa extrema depressão familiar e amorosa. Diz que foi a pior escolha que podia ter feito, porque, quando aqui chegou, o que vivia na Terra não era nada comparado ao que vinha sofrendo deste lado diariamente.

Ter tirado sua vida apenas abriu um grande portal de dor e sofrimento que este espírito diz jamais ter experienciado em sua existência. Ele chamava por socorro. Não enfrentamos problemas, pois ele desejava ser pescado. Já está no barco.” 7 Marés

4. “Estamos numa zona muito fria. Encontramos mãe e filha, 38 anos e 17 anos, respectivamente. Ambas foram vítimas da mesma pessoa, marido e pai há 30 anos no interior da Bahia.

Esses espíritos guardam em seu perispírito as marcas da violência que sofreram, como se ainda carregassem as feridas em seus corpos.

Apenas nos perguntam o motivo pelo qual terem partido daquela maneira. A dor, medo e desespero trouxeram ambas para cá. Foram acolhidas e seguem com a gente.” 7 Marés