
O Cambone Da Umbanda Sagrada
Mesmo já tendo se passado muitos anos desde a minha primeira experiência como cambone, lembro-me como se fosse hoje.
Naquela época, nem sabia que aquela função tinha nome. Estava ali vivendo meu processo de cura e muitas outras coisas que, naquele momento, ainda não eram conscientes para mim. Era um terreiro simples, “pé no chão”, no fundo da casa da Dona Conceição, em um bairro no subúrbio do Rio de Janeiro.
Sem atabaques, onde o caboclo “descia” cantando seu ponto, bem no estilo raiz da ‘macumba carioca’. Caboclo esse que tenho a honra de servir até hoje em meus trabalhos espirituais e com quem aprendi muito.
Foram mais de 5 anos como cambone naquela casa; anos muito especiais de doação e trabalho ao sagrado.
Tanto ali como em outras casas por onde passei, aprendi muitas coisas que foram se sedimentando ao longo dos anos: entendi que a Umbanda sem fundamento e sem caridade perde totalmente o seu sentido; aprendi também que ser cambone é a experiência mais profunda que nós médiuns em início de desenvolvimento podemos viver. Mais profunda, porque ser cambone é aglutinar duas dimensões tão diferentes.
É apoiar um médium que ali está incorporado por sua entidade, se doando por inteiro ao consulente. E de outro lado, a assistência que vai em busca de sabedoria e cura.
Unir o espiritual e o material é uma função de maior doação a ser executada pelo cambone. Sem falar que é o período de ensinamentos que certamente você levará para a vida inteira, dentro e fora de um terreiro. É viver a Umbanda na prática.
Nas palavras de Rubens Saraceni, “Cambone ou cambono é uma palavra de origem angolana que significa pessoa que não entra em transe mediúnico exercendo diversas atividades e responsabilidades dentro de um ritual sagrado.”
Acendemos um “toco”, servimos um marafo ou um “pito” às nossas amadas entidades, anotamos um banho ou dois.
Ser cambone é o elo que recebe o consulente com um sorriso no rosto pronto para apoiá-lo em seu processo de cura e o entrega à entidade que realiza os mais diversos trabalhos. Ajuda a entidade com as questões materiais de uma consulta, ao mesmo tempo em que mantém tudo em ordem. Nada naquele espaço escapa aos olhos de um bom cambone.
Se você já é ou pretende se tornar um cambone, deixo aqui um único conselho a você: APROVEITE A JORNADA. É o momento de maior aprendizado que você irá passar durante o seu desenvolvimento. “Curta” esse momento. Conduza de maneira leve e divertida, mas com responsabilidade. Afinal, sem fundamentos não evoluímos na espiritualidade.
Vejo muitos cambones ansiosos para atuarem como médiuns de atendimento e, por isso, muitas vezes, acabam deixando de aproveitar o momento.
Ser cambone é uma oportunidade única de aprender sobre os Orixás, as linhas de trabalho em geral, as ervas, os trabalhos e as firmezas com médiuns mais experientes para agregar em seu conhecimento e ajudá-lo na construção da sua jornada espiritual na Umbanda.
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