Benzimento e Umbanda

Benzimento e Umbanda

Olá pessoal, meu nome é Caio Durce. Sou o coordenador do Núcleo de Benzimento no TSA e hoje vamos falar um pouco sobre ‘benzimento’.

O que é o benzimento? Se você for procurar na literatura ou no próprio Google, poderá achar várias definições. Eu, trabalhando atualmente de forma intensa com o benzimento, não consigo trazer apenas uma definição.

Alguns definem o benzimento como uma ferramenta para tornar algo bento ou abençoado; outros afirmam que o benzimento serve para trazer o equilíbrio para algo ou alguém que está em desequilíbrio. Eu gosto de definir o benzimento simplesmente como um ato de fé, independente da sua crença religiosa.

Se pegarmos a história de como o benzimento chega no Brasil, temos diversos relatos e diversas origens, pois o benzimento, apesar de ser um ritual religioso, não é algo exclusivo de uma religião.

Quando os portugueses chegaram no Brasil, eles trouxeram junto com os jesuítas algumas rezas que eram usadas em rituais de limpeza e de tratamento de algumas doenças. Essas rezas são usadas até hoje nos benzimentos.

Quando o povo africano vem escravizado para o Brasil, eles são obrigados a seguir a religião católica, mas nós sabemos que, de forma escondida, eles continuaram cultuando a sua religião original. Com isso, além de nascerem as religiões de matriz africana, surge também uma mistura nos rituais que já existiam aqui. Pois, além dos jesuítas e dos africanos, já havia aqui o povo indígena, que tinha um conhecimento muito grande das ervas nativas, por meio do qual realizavam os seus rituais de cura e bênçãos, tratando da saúde e bem-estar do povo das suas nações.

Como tudo no Brasil, o benzimento sofre uma influência de todos esses povos, de todas essas crenças. Por isso, o benzimento não é algo exclusivo da Umbanda. Qualquer pessoa pode benzer, desde que tenha fé naquilo que está fazendo, desde que acredite piamente que o benzimento está sendo feito com amor, sem esperar absolutamente nada em troca.

Dessa forma é que a pessoa realmente vai ter o sucesso esperado, seja na cura de uma doença, seja na proteção contra energias negativas etc.

No Brasil, infelizmente, por várias questões, como o machismo e divisão da nossa sociedade, a responsabilidade de cuidar do bem-estar da família e da sociedade em geral foi por muito tempo função exclusiva da mulher.

Até meados da década de 1970, quase que só encontrávamos benzedeiras mulheres. Por sorte e evolução da nossa sociedade, isso vem mudando desde então, mas a ideia de ‘benzedeira’ ainda está enraizada na nossa cultura e, quando falamos de benzedeiras, nós pensamos naquela senhora de idade já avançada que mora em uma casinha simples, com um quintal amplo, cuidando de dezenas de ervas. 

Ela recebia a pessoa ali mesmo na sua casa, ouvia o problema e já pegava a erva que precisava e já realizava o benzimento, às vezes com uma vela junto ou com um copo d’água, às vezes usava outros elementos como punhais, alfinetes ou cordões. Assim, hoje se trabalha com uma ampla gama de elementos para a realização do benzimento.

Apesar de não estar ligado a apenas uma religião, sabemos que o benzimento está ligado diretamente ao mundo espiritual. É impossível realizar um benzimento sério, com fé, sem que a espiritualidade esteja ao nosso lado.

Nós da Umbanda, ao realizarmos um benzimento, é inevitável termos uma ajuda dos Pretos Velhos e/ou dos Caboclos; é natural que, durante o benzimento, venha em nossa mente uma reza ou um benzimento específico (é claro que são os nossos guias que estão nos direcionando). Antes de começar um benzimento, é muito comum também sentirmos os Caboclos nos dizendo quais ervas serão necessárias para aquele trabalho específico.

Na nossa casa, o benzimento surgiu por meio da Vó Ana (Preta Velha da nossa Mãe Carol). Ela imaginou esse trabalho junto ao Núcleo de Cura, para que o TSA fosse um grande hospital. É realmente um trabalho muito lindo de se ver.  

O benzimento é uma tradição brasileira realmente muito antiga e é muito gratificante ver que ela vem crescendo novamente, sendo realizado não só por mulheres, mas despertando o interesse em homens também.

Uma nova geração que vem com um cuidado em buscar o conhecimento antigo que, infelizmente, era passado apenas de forma verbal. Por causa disso, muito dessa sabedoria já se perdeu, mas, mesmo assim, muitos ainda conseguem achar uma avó ou uma bisavó que era ou que conhecia uma benzedeira. Logo, muito conhecimento está sendo registrado e é difundido em cursos, livros e na própria internet, onde podemos achar um material vasto.

Nós do TSA temos a sorte de termos esse núcleo*. Qualquer dúvida que tiverem, podem sempre vir falar comigo! Um grande abraço repleto de Axé e espero voltar logo com mais questões e curiosidades sobre benzimento!

*Para receber um benzimento, basta vir ao TSA nas datas agendadas, conforme calendário publicado em nosso jornal. Venha sentir esse Axé maravilhoso da casa!

Nome: Caio Flavio Rosa Durce Idade: 40 anos até abril quando faço 41 Histórico Religioso: Frequentei o Candomblé quando criança com os meus pais, isso foi dos 5 aos 9 anos. Depois disso houve um hiato de 28 anos longe da espiritualidade até que em 2020 eu voltei a ter contato em um terreiro de Umbanda Tradicional e em novembro de 2021 eu conheci o TSA e a Umbanda Sagrada onde eu realmente me encontrei espiritualmente e estou até hoje. Em dezembro de 2022 eu fui convidado a ser o Coordenador do Núcleo de Benzimento do TSA, é um núcleo novo, mas que teve muito trabalho em 2023 e que agora em 2024 teremos um novo curso e com isso vamos expandir ainda mais o número de pessoas do Núcleo.