
O Caminho espiritual
Por Juliana Kleine
Nós nascemos e parece que a vida simplesmente acontece com a gente. Vamos crescendo, estudando e trabalhando, nos desenvolvendo de forma natural. Tentamos resolver nossos problemas durante o dia e assistir TV à noite, seja o nosso futebol, o jornal, ou a novela. Tentamos lidar com nossas famílias, vamos atrás de conquistar nossos sonhos, arrumar um trabalho, pagar os boletos, criar os filhos. Aos domingos vamos à missa, por obrigação, e depois fazemos um churrasco. E há uma sensação de estabilidade e normalidade, embora haja dificuldades e desafios.
Até que um belo dia, algo acontece. Uma virada, uma decisão difícil. Divórcio, demissão, uma doença inesperada, ou um luto por alguém querido. A vida nos pega de jeito, e a sensação é de que levamos uma rasteira do universo. Não planejamos passar por nada daquilo. Nem aparece no roteiro da vida o manual para lidar com esse evento.
Esse algo que acontece mexe conosco lá no nosso âmago e pode vir com um sentimento grande de vazio, uma insegurança em relação à existência. Questionamos a vida, nossos pais, nossos mestres. Procuramos modos de compensar, de preencher o vazio. Os nossos recursos de sempre não são mais suficientes para lidar com o que a vida apresentou. E isso pode gerar uma revolta, ou mesmo nos fazer engolir tantos sentimentos, porque parecem impossíveis de lidar. Criamos uma máscara, uma imagem falsa de que tudo está bem, mas, internamente, a instabilidade se faz presente, mais do que outra sensação cômoda.
Essa grande confusão interna se torna um vapor que pode explodir a qualquer momento. Pode vir uma sensação de desespero, pois sabemos que não está tudo bem. Mas a abafamos e continuamos, apesar dela.
Negamos o desconforto com tanta força ao ponto de suceder uma doença física ou mental (burnout, ansiedade, depressão, vícios, alergias sem explicação, gastrites crônicas, entre tantas outras diagnosticáveis ou não), até o momento em que a dor e a angústia tomam conta de nós – a sensação de que é insustentável manter a rotina acachapante de cumprimento de obrigações com o mundo, além de padecer física ou mentalmente. Talvez alguém com muita compaixão, e que não aguenta mais nos ver sofrer, nos diga: “Vai procurar ajuda!” E pensamos: “Precisamos de ajuda, sim! Mas também de esclarecimentos, de respostas!”
Precisamos então tomar coragem de assumir que não podemos mais suportar a escuridão interna que se estabeleceu.
No fundo, talvez beeem no fundo, sentimos que há esperança, no meio daquela angústia e sofrimento vemos uma pontinha de luz. Não é possível que a dor ganhe, algo em nós quer lutar pela vida, por nós. Entendemos que há um conflito interno. E quando a dor de permanecer é maior do que a dor de pedir ajuda, nos lançamos numa busca, numa nova jornada (nos arrastamos quando há um resto de forças).
Muitas vezes, esse caminho de busca nos aproxima da filosofia, da religião, da espiritualidade. Podemos até testar algumas possibilidades, vamos à missa aos domingos, à gira de segunda-feira, meditar no parque, começar uma prática de ioga. Tentamos tratamentos diversos, quem sabe uma terapia? Compramos livros, recorremos à autoajuda, que podem não dar conta do recado, mas fazem algum sentido.
Ainda assim, a dor ainda está lá. Algumas dessas sombras e dores que fazem morada em nós e, volta e meia, tocam a campainha e nos lembram de que elas existem. E a vida simplesmente segue acontecendo, os ciclos retornando… O sofrimento se torna constante.
E a angústia toma conta. Caímos, choramos, e nada funciona! Os amigos e a família consolam, mas não respondem. Eles mesmos possuem suas questões não resolvidas.
Temos que voltar ao combate. Tomamos mais uma dose de coragem. Lemos mais livros, encontramos canais no YouTube, conhecemos alguma técnica, entramos numa aula que nos toca, nos transforma, e somos tentados a nos entregar a algo maior.
E, de alguma forma, dá-se um estalo e achamos um caminho de aprofundamento em nós mesmos, facilitado por algo que sentimos que nos provê de armas para enfrentar nossas próprias sombras e dores; algo capaz de calibrar nossa intenção de olhar para dentro e, enfim, manejá-las, superá-las e encerrá-las. Às vezes, é por meio do respirar. Pelo ar que entra e sai, descobrimos uma vastidão dentro de nós. Tomamos contato com nossa alma, com nossa luz interna. Descobrimos uma infinitude muito além do nosso corpo físico. Controlamos a selvageria da mente e entramos em contato com um amor profundo, uma compaixão. Nos sentimos espirituais e, além da materialidade, vemos que há algo a mais. Já tínhamos visto isso, mas o esquecemos!
Ingenuamente, achamos que foi ali que iniciou o caminho espiritual, quando temos essa sensação de encontrar algo além da materialidade. Porém, não, amigos! O caminho espiritual se iniciou antes mesmo de tomarmos coragem de enfrentar nossas dores, de reagir e de iniciar a busca pela verdade, apesar da dor. As nossas dores, nossas perdas, lutas e sombras são o início desse caminho espiritual, porque é esta a indicação de que, se existe sombra, existe a luz. A dor é um grande chamado para a luz.
Uma das bússolas que a humanidade possui para ir em direção a ela é a Umbanda Sagrada, que provê conhecimento para que encontremos a verdade da vida e realizemos o grande encontro da nossa alma com Deus, superando os desafios e dores da vida material.
Na Umbanda, não trocamos oferendas por bens materiais, não oferecemos nossa espiritualidade em troca de algo deste plano. Quem acha que é isso que a Umbanda faz, equivocou-se fortemente.
A Umbanda Sagrada, por meio da caridade, oferece luz por meio do auxílio ao irmão sofredor. Mas também traz à luz o conhecimento doutrinário conforme inspiração do Pai Rubens Saraceni e outros doutrinadores, com esclarecimentos sobre os planos da vida, sobre a espiritualidade, a constituição do ser humano e suas complexidades. Basta um pouco de leitura e aprofundamento para se deparar com a riqueza que já foi construída.
A maioria de nós que hoje faz parte da Umbanda Sagrada, antes de entrar, enfrentou uma batalha, chegou com dores e perguntas – essas que ganham novos contornos e se renovam conforme a vida se desenvolve.
E então, ao enfrentarmos duramente nossas dores e sombras, recebendo diversos auxílios e nos aprofundando nos estudos trazidos por Pai Rubens Saraceni, encontramos também a vocação de auxiliar outras pessoas, umbandistas ou não, em suas próprias dores.
E a partir disso tudo vai se desenhando um grande caminho: o do sacerdócio!
Tornar-se sacerdote é, ao mesmo tempo em que enfrentamos a nossa luta interna, auxiliar todos que chegam e pedem ajuda para fazer o caminho espiritual, fornecer apoio para cada qual enfrentar suas próprias lutas, entender a dor alheia, independente de qual seja essa dor, com o suporte de toda doutrina da Umbanda Sagrada e de todas as entidades, guias e Orixás.
É saber também que todos têm a capacidade de realizar o caminho espiritual, mesmo escolhendo outras vertentes, uma vez que existe um amor de Deus infinito, por meio do qual encontramos a paz e a cura dentro de nós – porque a Umbanda não renega outras filosofias nem religiões, pois são muitos os caminhos que levam a Deus.
O Sacerdote é aquele que vai saber não apenas da doutrina da Umbanda Sagrada, mas vai entender e encaminhar, além de acolher e auxiliar, por caridade, uma alma irmã.
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Carl Jung
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