
Diário de Sacerdócio – Parte 3 – Incorporação
Diário de Sacerdócio – Parte 3 – Incorporação
Minha primeira reflexão foi no sentido de que, para ser sacerdote na Umbanda Sagrada, é preciso decidir e firmar a cabeça nessa direção, seja por meio de um chamado externo, seja interno, do coração.
Para um segundo capítulo, depois de muitos atendimentos e relatos de amigos e colegas de terreiro, entendi que é essencial ter uma grande compaixão e vocação de auxílio ao próximo, nunca esquecendo de si mesmo e do seu próprio caminho de desenvolvimento neste plano. Até porque o exercício do sacerdócio não torna o sacerdote – ou aprendiz de sacerdote – isento das suas próprias sombras, imune aos desafios terrenos, aos seus próprios aprendizados, menos humano.
A terceira reflexão irá mais para a prática. Isso porque existem alguns requisitos para ser aceito em algumas classes de sacerdócio na Umbanda Sagrada, e uma delas é a incorporação.
Para entrar no curso do sacerdócio do Instituto Rubens Saraceni, por exemplo, é preciso ter mediunidade de incorporação, e o médium deve ter incorporações firmes, ou seja, conseguir sustentá-las pelo tempo necessário, com habilidade de manter-se consciente enquanto incorporado. O aluno de sacerdócio deve ser um médium de incorporação e saber fazer as conexões com seus guias quando solicitado.
E faz todo o sentido, certo? Se o aluno, futuro sacerdote, abrir o seu terreiro, ou trabalhar em um centro onde há atividades de Umbanda com incorporação, ele deverá entender muito bem o processo da incorporação, compreender processos de animismo e, enfim, o que não é incorporação – o que chamamos de mistificação.
Numa das aulas específicas a respeito, a nossa Mãe Fátima Saraceni esclarece estas qualidades:
Mediunidade: qualidade, faculdade ou dom de médium; medianimidade. Pessoa que se crê servir de intermediária entre os vivos e os espíritos = MÉDIO.
Animismo: do latim “animus”; ANIMA; Alma. Todo potencial, por si mesmo, do ser humano. Fenômeno psíquico. (…) É o conjunto dos fenômenos parapsíquicos produzidos pela consciência encarnada, sem interferência externa, ou de espíritos. Exemplos de animismos: Intuições; pressentimentos; inspiração; telepatia; clarividência; clariaudiência; clariolfatismo; premonições, projeção astral; bicorporeidade; materialização, entre outros.
Mistificação: simulação premeditada da incorporação, com intuito de enganar. Mistificar é fingir uma incorporação. (Informações da apostila recebida em aula, no ano de 2023)
O sacerdote deve ter domínio da sua própria incorporação e reconhecer os demais fenômenos em si, nos assistidos, nos filhos de fé, e em outros que porventura se encontrarem em seu caminho para auxílio.
E, nesse contexto, somos informados sobre uma aula muito especial de incorporação no Instituto (agora sim, saindo da teoria para prática). Os alunos devem participar de uma aula-gira, na qual os seus respectivos caboclos se apresentarão incorporados e dirão seus nomes. Ademais, deverão confirmar aos seus médiuns se eles deverão permanecer neste caminho do sacerdócio. É a confirmação espiritual da vocação de cada um!
Naturalmente, é uma aula que gera muita ansiedade em todos, pois é possível que, mesmo havendo vocação, o caboclo diga que ainda não é a hora! Então, alguns ajustes poderão acontecer ali, naquele momento de manifestação, em que a espiritualidade se apresenta em terra para confirmar ou não a escolha do médium-aluno.
No meu caso, logo que soube da aula, já fiz a pergunta à espiritualidade que me acompanha e pedi respostas. Elas vieram rapidinho, confirmando, mas ainda duvidei, afinal, isso teria que acontecer na aula-gira.
Chega o dia da aula e a ansiedade é demais. Mas me concentro, entro em meditação e vem a conexão com o Senhor Caboclo Águia Dourada. Ele me sentou para conversar, perguntei novamente sobre a confirmação, ao que ele falou: já respondi a sua pergunta. A espiritualidade não perde tempo mesmo, mas, ufa! Que alívio ter a confirmação da confirmação (risos nervosos).
Então, já que estávamos resolvidos, ele aproveitou o nosso momento de encontro e me contou muitas outras coisas, sobre os demais caboclos que me acompanham, que todos trabalham juntos, e da cigana dourada que comanda essa turma. Visões realmente lindas, uma benção para nunca mais me esquecer!
Mas, fica a questão: por que Mãe Fátima requer essa confirmação da espiritualidade de cada um? Bom, eu nunca perguntei a ela, mas penso que, além de o médium ter um momento específico para refletir sobre a sua escolha, essa é uma decisão que envolve um trabalho árduo, duro mesmo, com desafios que vão exigir tanto do médium, da sua família, dos seus amigos, do trabalho… Investimentos financeiros? Certamente! É um compromisso nessa terra, e, se a espiritualidade não estiver também congregada neste compromisso, ajudando a sustentar, tudo ficará mais difícil.
Uma casa não se faz de um pai ou uma mãe de santo sozinhos, mas do esforço de inúmeras pessoas e de toda a espiritualidade que os acompanha, alinhada nesse mesmo propósito, para que em dia de gira os assistidos possam ser atendidos, onde a luz de Aruanda seja emitida com mais força nessa terra, que tanto dela necessita.
Forçoso concluir, portanto, que a espiritualidade, além de emissora dessa luz, deverá estar atuante para abrir e manter os caminhos desses médiuns-alunos, que de mãos dadas com os Orixás e seus guias, serão representantes e verdadeiros meios de contato, nesse plano, do lindo trabalho da Umbanda Sagrada.
*O TSA está ajudando também as vítimas das tragédias no Rio Grande do Sul! Entre em contato ou traga sua doação ao terreiro!
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