Entrevista Val, pai pequeno TSA

Entrevista Val, pai pequeno TSA

Valdeir Batista, conhecido como Val, tem 33 anos e é Pai Pequeno no Templo Sol de Aruanda (TSA). Ele iniciou sua jornada espiritual no TSA, impressionado pelo acolhimento da casa. Com uma forte formação, tornou-se professor de Magia Divina e figura chave do templo. Por isso, nessa edição vamos entrevistá-lo!

1. Como foi a sua infância e o que te fez vir pra São Paulo?

Minha infância foi marcada por um episódio que praticamente determinou minha vinda para São Paulo. Eu nasci e passei os primeiros anos no Nordeste, mas, aos dois anos, tive um problema sério: uma ferida no pé direito. Naquela época, o médico local cogitou amputar meu pé. Foi então que meu pai veio primeiro para São Paulo em busca de tratamento, e logo depois minha mãe chegou comigo e meu irmão já nasceu em São Paulo. Aqui, com medicamentos e cuidados, tudo se resolveu, e meu pé ficou normal. Como vim muito pequenininho, não tenho muitas lembranças dessa fase, mas foi isso que trouxe minha família pra cá. Hoje, me considero quase um paulistano.

2. O que a espiritualidade mais ajudou na sua evolução?

A espiritualidade foi essencial em tudo na minha evolução. Descobri a força espiritual que carrego dentro de mim no dia 7 de setembro de 2018, através de uma leitura de cartas que uma amiga me apresentou. Antes disso, eu era descrente, mas, desde então, minha vida mudou completamente. Meu trabalho, minha vida financeira, minha família e meu próprio caminho espiritual melhoraram significativamente. A espiritualidade me mostrou um propósito que sigo até hoje, e sou extremamente grato por isso. Como um bom filho de Oxóssi, ir em busca de conhecimento e espalhar o conhecimento na mata como um todo.

3. Se você pudesse dar um conselho pra quem tá começando hoje, qual seria?

O conselho que deixo, e que também aplico a mim mesmo, é: viva um dia de cada vez, com calma. Não dê um passo maior do que sua perna alcança. Como diz o Preto Velho: “Filho, não dê um passo maior que a bengala do vô, porque, se você cair, a bengala não estará lá para te amparar.” Caminhe com cautela e deixe as coisas fluírem, como a água de um rio, sem colocar obstáculos no caminho. Não tenha pressa para descobrir o nome do seu guia, pai, mãe, orixá ou guardião. Tudo acontece no tempo certo. É um processo lento e desafiador, mas muito valioso. Deixe a espiritualidade fluir naturalmente.


4. Nossa edição é especial de Preto Velho. Conta pra gente um pouco como é a sua relação com seus pretos velhos.

Pai Benedito de Angola foi um dos três primeiros a se apresentar a mim, trazendo sabedoria e ancestralidade. Quando ele está presente, há uma leveza e clareza uma maturidade que só um avô tem. Ele é acolhedor, mas também firme quando necessário, dando broncas e ensinamentos para nosso crescimento. Ele passa a mão na cabeça, passa. Mas se ele tiver que dar uns “cascudos”, dá também, mas não deixa de ser acolhedor.
Além dele, recentemente a Vovó Joaquina de Oxum também se apresentou no amaci de Oxum. Ela é como aquele colo de avó que nos acolhe nos momentos mais difíceis. Quando estou exausto, só peço sua bênção, e sinto sua presença como se fosse acolhido naquele saião branco com aquela mão surrada de calo, passando a mão na minha cabeça e falando: “Filho, a vó tá aqui. Quando quiser colo meu menino, é só vim. A avó não precisa de muito não”. A gente chega a chorar por dentro. Pretos Velhos me ensinam que nem sempre podemos ser guerreiros; às vezes, é preciso voltar a ser criança e buscar o colo deles. Essa relação me fortalece profundamente.


5. Pai Val, quando foi sua primeira vez no Templo Sol de Aruanda e o que mais te marcou nesse primeiro contato?

Minha primeira vez no Templo Sol de Aruanda foi há alguns anos, convidado por amigos que já conheciam o lugar. Fui a uma gira de preto velho e o que mais me marcou foi o acolhimento. Todos são tratados com igualdade, amor e carinho. Naquela ocasião, conheci a Tia Cláudia, hoje conhecida como Tia Cacau, irmã do dirigente espiritual, Pai Paulo. Ela estava organizando as consultas e, por coincidência, ou melhor, obra do destino, quem me atendeu foi a própria preta velha da Tia Cacau. Foi uma experiência maravilhosa e desde então, nunca mais saí do TSA, tanto pela Umbanda quanto pela magia. Conheci o Zanin durante meu quarto grau de magia e continuei meus estudos lá. O TSA é uma casa muito acolhedora, cheia de amor, fé e força.

6. Como foi sua primeira incorporação e quando você percebeu que era médium de trabalho?

Minha primeira incorporação no TSA foi em 5 de fevereiro de 2021. Eu já tinha experiência em outra casa, onde comecei a trabalhar minha mediunidade, mas ainda não tinha certeza se era médium de trabalho. Minha jornada espiritual foi cheia de desafios e dúvidas. No começo, era difícil, eu travava muito e tinha muitas inseguranças. Foi um processo lento e difícil, mas com o tempo e estudo, fui entendendo mais sobre ser um médium de trabalho. Em 2022 para 2023, comecei a perceber meu verdadeiro papel na Umbanda. Estar em uma casa e ser médium é uma experiência incrível e ainda estou aprendendo.

7. Como foi receber o convite para ser Pai Pequeno na casa? O que mudou para você após assumir esse papel tão importante?

Foi até engraçado receber o convite para ser Pai Pequeno. Estava dormindo quando recebi uma ligação de vídeo da Carol e do Paulo. Quando vi a chamada, fiquei preocupado, achando que tinha feito algo errado. Mas, para minha surpresa, eles me convidaram para ser Pai Pequeno do TSA. Fiquei mudo por um momento, depois percebi a seriedade e confiança que depositaram em mim. Esse papel trouxe uma renovação e uma nova oportunidade de vida. É uma responsabilidade grande, mas muito gratificante, auxiliar tanto os novos quanto os antigos membros da casa.

8. Pode compartilhar conosco algum atendimento que te marcou muito e que seja possível dividir com os leitores?

Um atendimento que me marcou foi com um consulente que tinha problemas com vício em cigarro. O guia, Exu Caveira, usou uma fita no pulso da pessoa e disse que ela não conseguiria fumar novamente. Desde então, essa pessoa não fuma mais. Esse tipo de relato, onde a espiritualidade realmente faz a diferença na vida de alguém, é muito marcante e gratificante. Existem muitos outros casos, mas esse foi especial porque a pessoa me relatou o impacto positivo que a consulta teve em sua vida.

9. Você é visto como uma pessoa brava, mas com um grande coração. Para você, quais são os princípios fundamentais que auxiliam no desenvolvimento de um médium?

Não me considero bravo, mas sério e focado no trabalho espiritual e magístico. Acredito que a seriedade, o compromisso e o respeito com a espiritualidade são fundamentais para o desenvolvimento de um médium. Quando estamos no terreiro, tudo que acontece fora dele deve ficar de fora. Tento passar esses princípios para os médiuns, acolhendo-os e orientando-os da melhor forma possível. Acredito na importância de ter um coração acolhedor, mas também de impor ordem e disciplina. Isso me ajuda a trazer o equilíbrio necessário para auxiliar os médiuns em seu desenvolvimento.

10. Como foi sua relação com a magia divina? O que você sente hoje sendo um professor de magia?

Comecei a estudar magia divina em 2020, iniciando pelos graus obrigatórios como fogo, ervas e pedras, e depois portais. Sempre fui dedicado aos estudos e a magia me proporcionou um autoconhecimento profundo. Hoje, como professor, é uma alegria imensa. A primeira casa que me convidou para dar aula foi a Tenda da Onça, e depois o TSA. Ensinar magia divina é maravilhoso, pois aprendo muito com os alunos e compartilho meu conhecimento com paixão. A magia me ajudou a olhar para dentro de mim e a trazer à tona meu potencial através dos tronos de Deus. Ser professor é uma experiência gratificante e enriquecedora.

11. Quais são suas expectativas e objetivos futuros como Pai Pequeno do Terreiro de Umbanda Templo Sol de Aruanda?

Minhas expectativas e objetivos são auxiliar da melhor forma possível todos que buscam ajuda no TSA, continuar aprendendo com os dirigentes espirituais e fortalecer a casa. Espero que o TSA cresça ainda mais, acolhendo muitos filhos de fé e compartilhando histórias de vida e superações. Quero contribuir para que cada pessoa possa se desenvolver espiritualmente e materialmente. Agradeço a equipe do Jornal do TSA por esta oportunidade. Que nosso Pai Olorum, Pai Oxalá e todos os Orixás, guias e protetores espirituais nos abençoem.