
O ritmo da caminhada
Seu Zé Malandro nos diz:
“Tu já desceu e subiu morro? Tu já parou e refletiu sobre as encruzilhadas da vida? Não? Pois então eu convido você a refletir quando passar pelas esquinas que definem a sua caminhada. Esse ponto de cruz não é só mera paisagem que passa despercebida. Se você tiver um pouco mais de atenção, vai perceber que essa cruz simboliza duas coisas importantes: o que você perdeu, o que ficou para trás, o que não volta mais, o que já morreu, mas também o que você ganhou, o caminho aberto para o novo, a vitória sobre o passado. Sabe quem te sustenta durante essa jornada? É a força de Ogum.
Para quem consegue sentir essa força, não tem caminho fechado. A esquina pode ser escura, mas, quem anda com Ogum, enfrenta a escuridão. A esquina pode ser desconhecida, mas, quem anda com Ogum, enfrenta o desconhecido. A esquina pode ser sombria, mas, quem anda com Ogum, enfrenta a própria sombra. Quem decidiu caminhar, sente essa energia todo dia, porque ela é que nos dá força para pôr o pé no chão e prosseguir. Sem Pai Ogum, não tem caminho que nos leve a Deus. Sem Pai Ogum, não tem progresso nesse mundo de desvario. Sem Pai Ogum, as coisas da vida perdem o seu lugar e nada mais faz sentido.
Por isso, eu digo: quem passa pelos morros e esquinas sem se firmar em Ogum, não consegue enxergar um palmo em sua frente; fica refém de si mesmo para escolher o caminho certo e, na maioria das vezes, cai. Sabe por que cai? É porque não viu o buraco durante a jornada. Sabe o que esse buraco significa? Quem anda sem se firmar em Ogum, anda à margem da Lei; vai brincando de desafiar a própria sorte, numa dança perigosa na beira do precipício. Para cair morro abaixo, basta um passo errado, um balanço fora do ritmo, uma gingada sem equilíbrio. Aí, quando vai ver, já está lá embaixo. O tombo foi grande e a vergonha toma conta. Sabe quem dá esse ritmo, esse equilíbrio? É a Lei. Na sua ignorância, você pode duvidar, não concordar. Não importa… A Lei dita o ritmo e as notas desse samba. Quem não está satisfeito, que vá dançar nos quintos dos infernos! Quem quiser aprender os passos dessa música, precisa trabalhar muito, ter disciplina, sabe como é? Não adianta muito querer mudar a dança. Se você não souber algum passo, pode até improvisar. Mas cuidado! Para cair, não custa… E, na hora de levantar, o lombo dói.
Quantas vezes você já tentou impor um ritmo que não cabia na própria vida? Quantas vezes já tentou dar um passo maior do que as pernas e se esborrachou no chão? Quantas vezes já tentou atravessar uma esquina sem estar pronto e acabou errando o caminho? Então, está na hora de firmar essa cabeça em Ogum. Pegue as ferramentas para você mesmo construir a sua jornada. Se você andar na linha, meu Pai Ogum te ensina a usar essas ferramentas. Se você aprender a andar no ritmo da própria vida, a caminhada fica mais fácil, mais leve e mais gostosa.
Eu estou aprendendo os passos da minha vida até hoje. Hoje, eu subo e desço morro com a minha cabeça firme na Lei. Viro e dobro esquina sem medo de cair, porque sei que quem me dá força para seguir o meu caminho é Ogum. Hoje, olho para mim mesmo antes de atravessar a esquina. Eu não sou bobo e não me engano, porque sei qual esquina eu posso cruzar. Se eu estou aqui hoje, é porque eu sou malandro e aprendi a andar na linha. Quando você vai aprender?”
Seu Zé Malandro
Psicografado pelo médium Diogo Silva
Ilustração: Fernanda Vogt
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